Parei de tomar Coca-Cola! Ou será que não?

Roger Oba
5 min readJul 4, 2016

Para quem não me conhece, desde que me conheço por gente, tomo (ou, tomava) Coca-Cola não como se fosse água — mas muito mais.

Aqui os leitores se dividem em 2 grupos bem distintos em relação às consequências desse hábito: os que batem no peito e falam "tomo mesmo!", e os ditos "frescos", que já não tomam mais refrigerantes em geral, e buscam se alimentarem melhor.

Digamos que eu sou fresco agora.

Não apenas como um experimento de mudança de hábitos, eu queria mudar algo que fosse me trazer algum benefício, e eliminar os estimados R$ 1900 gastos em Coca Cola durante 10 meses me pareceu atrativo o bastante já.

Pois bem, depois de uma época em que consumia cerca de 1 litro de Coca Cola por dia, no último dia 15 de outubro parei de saborear isto:

A Experiência

Foi difícil? Sinceramente, não. Como só excluí um tipo de bebida da minha alimentação, não achei nada difícil mudar esse hábito. Se você não comprar no supermercado, não terá em casa, logo, você não irá beber em casa. Fora de casa, custa apenas lembrar de pedir um suco ao invés da Coca. Simples. Diferente de outros hábitos que não possuem substitutos diretos.

No entanto, uma reflexão me fez pensar nessa mudança.

Qual o propósito da sua mudança?

Sempre que decidimos passar por uma mudança, seja de hábitos alimentares, prática de algum esporte, trabalho voluntário, ou qualquer coisa que requeira certa frequência e constância, fazemos por algum propósito, certo?

Refletindo, qual foi o propósito da minha mudança? Refrigerantes em geral podem (e provavelmente iriam, caso eu continuasse ingerindo tamanhas quantidades) causar diversas consequências no organismo, e isso todo mundo sabe, não preciso entrar em detalhes.

E reduzir o consumo da Coca Cola para zero iria de encontro com meu propósito? É claro!

Mas qual o impacto de dar umas escapadinhas?

Se antes eu consumia Coca Cola digamos que 365 dias no ano, almoço e janta, qual o impacto de se consumir 1–3 vezes no ano? Já reduzi o consumo a 0.14% comparado ao que costumava consumir, já não é o suficiente para cumprir com meu propósito? Será que meus outros hábitos não vão contrários ao meu propósito?

Há quem defenda a ideia de que quem cria (ou tenta criar) certos hábitos duvidosos são hipócritas, quando por exemplo começam a fazer academia para emagrecer, mas mantém ou muitas vezes até aumentam o consumo de doces e gorduras. Mas este não é meu ponto aqui, não compartilho essa opinião. Meu ponto é que criando mais hábitos que vão de encontro com seus propósitos, é possível "dar algumas escapadinhas", e não ser extremamente rígido.

Claro que propósito, rigidez e disciplina são necessários para se criar e manter hábitos, mas desde que se tenha controle sobre seus atos, é tudo uma questão de saber administrar.

Recaídas?

Você pode estar se perguntando por que eu voltaria a consumir a dita Coca Cola se eu não senti falta e me adaptei sem ela. Refletindo sobre esse meu novo hábito alimentar, e hábitos alimentares em geral, existe todo um contexto social que gira em torno dessa rotina alimentar que vivemos no dia a dia.

Existem pessoas que possuem restrições alimentares por questões de saúde (alergias alimentares, intolerância à lactose, diabetes, etc), e podemos nos colocar no lugar dessas pessoas e imaginar que elas podem ter sofrido algum desconforto na infância, ou até mesmo trauma, por não poder comer o bolo de aniversário na festa do amiguinho, ou ter adorado comer camarão, mas descobrir que era alérgico.

E então crescemos, e optamos pela prática da cultura ao escolher o que iremos e não iremos comer. E decidimos nunca mais comer determinado prato, por opção?

Acho que não precisa ser bem por aí. Respeitemos os hábitos de cada um, sejam alimentares ou quaisquer outros hábitos, e se quiserem restringir seu consumo de alimentos definitivamente, tudo bem também. Mas talvez essas pessoas estejam deixando de lado algo que pode ser importante para elas, ou para pessoas próximas: momentos.

Momentos

Quem não gosta quando abrem excessões pra você?

Quando sua mãe deixava você dormir tarde no seu aniversário quando criança, quando vocês jantam num restaurante mais caro em uma data especial, quando seu amigo dá uma folga nos estudos ou trabalho pra sair com você. Ou ainda quando sua amiga faz aniversário e você toma enzima de lactase pra poder saborear o bolo junto dela, quando seu amigo que a princípio não bebe te acompanha no espumante num momento especial, ou quando seu tio chef de cozinha prepara aquele jantar especial completo, e todos saboreiam juntos, independente do regime alimentar.

São momentos que podem ser passados como qualquer outro momento, ou podem ter um gostinho de excessão, daqueles 0.14%.

Certamente você não vai desandar e passar a engordar caso saia do seu regime algumas vezes por ano, ou virar um alcoólatra, ou aumentar significantemente o consumo de carne bovina no país.

Novamente, qual seu propósito?

Analise-o, e pense em como chegar mais perto do seu propósito, melhore ainda mais seus hábitos, porque talvez isso lhe ajude a se permitir abrir excessões.

Está economizando dinheiro? Que tal comprar menos coisas desnecessárias, mas planejar aquela viagem que está adiando há anos, com alguém querido?

Está fazendo regime para emagrecer? Que tal começar a praticar exercícios, mas de vez em quando comer um bolo?

No meu caso, eu havia parado de tomar Coca Cola. Mas substituí o hábito da bebida por outros refrigerantes (muitos da marca Coca Cola inclusive) e vi que não estava sendo consistente com meu propósito. Reduzi então drasticamente o consumo de refrigerantes em geral, mas quando há alguma ocasião especial, por que não? Inclusive Coca Cola. Passei a vida inteira consumindo diariamente, e hoje se eu tomo uma vez a cada 3 meses, é muito.

Aqui sim a disciplina e o bom senso devem fazer seus papéis. Não adianta seguir um princípio 5/2 (extravasar nos finais de semana), ou separar 1 dia no mês pra isso, senão acabamos vivendo em função das excessões, sempre contando os dias pra chegar a próxima excessão. Perde um pouco o sentido.

Para aqueles que gostariam de criar um novo hábito, mas acham que não conseguiriam manter a rigidez, permitir excessões talvez deixe a tarefa mais fácil, pelo menos pro seu subconsciente. Não será mais proibido, mas especial, logo você aproveitará mais tais momentos de extravagância, do que como se fosse algo banal.

Habitue-se à prática de algo melhor pra você, por saber que aquilo é bom (seja pra saúde, bem estar, vida profissional, ou qualquer outro motivo), mas não se feche para momentos especiais, em que seus amigos e familiares iriam adorar que você abrisse uma excessão pra eles.

Apenas não faça das excessões seus hábitos.

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Roger Oba

Lead iOS Engineer @ Tellus Inc. I hate reading, but Medium has been doing a great job changing this. I might write my opinions here every once in a while.